Agora que você já sabe a origem da frase Close Your Eyes and See, vamos conhecer como surgiu o projeto propriamente dito.
Meu primeiro contato com crianças em abrigos ocorreu durante o ensino médio, nos anos 90. Meu colégio mantinha uma parceria com um orfanato e, em uma das nossas atividades extracurriculares, tivemos a oportunidade de passar um dia nesse local. Essa experiência foi verdadeiramente transformadora, pois percebi que a única coisa que aquelas crianças desejavam era atenção, um abraço, um colo. Lembro-me vividamente de um momento em que duas crianças se agarraram à minha perna enquanto outra se aninhava em meu colo. Aquela demonstração genuína de carinho me deixou sem palavras.
Minha segunda experiência aconteceu em 2015, quando ouvi a história da fotógrafa americana Ana Brandt. Ela compartilhou que foi uma criança adotada e que não guardava recordações da infância, nem antes nem depois da adoção. Diante dessa vivência dolorosa, Ana decidiu se dedicar à fotografia de famílias, com o objetivo de proporcionar a todos a oportunidade de conhecer sua própria origem.
Após dois anos, em 2017, enquanto atuava na UTI Pediátrica, tive a oportunidade de conhecer Marcília, uma auxiliar de enfermagem cheia de energia, sempre prestativa e com um espírito vibrante.
Com o tempo, ela me convidou para fotografar seu casamento, um momento muito especial. Depois, veio o pedido para realizar seu ensaio de gestante. Infelizmente, por razões que estavam além de nosso controle, a gestação não se concretizou.
Alguns meses depois, recebi uma mensagem de Marcília que me surpreendeu:
“Ana, você poderia fazer meu ensaio de gestante?”
“Claro! Quantas semanas você está?”
“Na verdade, Ana, decidimos adotar e gostaria de fazer um ensaio para celebrar essa nova fase. Você toparia?”
“COM CERTEZA! SERÁ UMA HONRA!”
“Ah, Ana... eu sabia que podia contar com você!”
Com a proposta da Marcília mais o relato da Ana Brandt, iniciava o meu projeto!
A possibilidade de criar as primeiras memórias das crianças e seus novos pais !
Se fotografar é "contar histórias", então vamos capturar a transformação que ocorre na vida de uma família quando ela fecha os olhos e permite que o amor floresça em seus corações.
A adoção, em minha visão, é um ato profundo e transformador. É fechar os olhos e se lançar em um universo repleto de burocracia e paciência. É testemunhar o amor (re)nascer, tanto na nova família que acolhe quanto na criança que será adotada. É permitir que o desejo de ser mãe ou pai se manifeste, independentemente da origem.
Frequentemente, imaginamos que ser mãe envolve ter um barrigão, sentir enjoos e ter desejos por comidas exóticas. No entanto, ser mãe ou pai vai além das mudanças biológicas; é desejar ser uma presença única e especial na vida de uma criança, que já traz consigo uma bagagem de histórias. Com a chegada de uma nova família, essas histórias ganham novos significados e cores, revelando a beleza da adoção e o poder do amor.